Entrevista a Marina Silva, investigadora do Projeto "Coral Change" no DOP.
O que pensa
sobre os corais?
São o meu tema de estudo preferido e já os estudos há 15
anos. Acho que são um tema de estudo fascinante porque são uns organismos muito
sensíveis às alterações do ambiente. Como por exemplo, tanto como os corais que
existem nos trópicos, nas águas quentes, como os corais que existem nas águas
frias são muito sensíveis a qualquer alteração da temperatura ou da acidez da
água. Por isso, os corais são um animal muito útil para estudar os efeitos das
alterações climáticas no meio marinho. Aqui nos Açores temos corais a grandes
profundidades.
É por isso
que eles são importantes?
Os corais são importantes porque constroem ecossistemas muito
vastos, por exemplo, nas costas de África existem grandes recifes de corais que
são um elemento construtor do ecossistema o que faz com que haja muita
produtividade a nível de peixe, portanto têm uma papel muito importante na
pesca e protegem a costa da erosão. Têm também um papel muito importante a
nível de geração de dinheiro, pois as pessoas dependem diretamente desses
recifes de coral.
Acha que as
mudanças climáticas estão a afectá-los?
Acho que sim, acho que já há muita informação que os corais
tropicais estão a sofrer do aumento da temperatura. Como no lixiviamento dos
corais, quando eles ficam brancos, perdem a alga simbiótica. Eles têm umas microalgas
no tecido que lhes dá alimento e quando a temperatura sobe perdem essas
microalgas e morrem por falta de alimento. Em relação á acidez da água (acidificação
dos oceanos) que é a descida do Ph, também pode prejudicá-los porque trava a
sua calcificação e eles crescem mais lentamente. Sobre os corais de águas frias
sabe-se menos e é isso que eu estou a estudar neste momento, e como é que as
alterações do clima vão influenciá-los.
Quais os
procedimentos utilizados neste projecto?
Nós fazemos experiências em laboratório com o auxílio do
HOFFE (aparelho que é de operação remota e que vai para baixo de água e filma
aquilo que queremos ou o que está junto ao fundo do mar e ás vezes têm umas
“mãos” e umas caixas para recolher os organismos). Também já recolhemos
organismos com o auxílio do submarino Lula. Depois pomos os corais em aquários,
esperamos um tempo para eles se adaptarem ás condições de cativeiro e começamos
a fazer experiências, como por exemplo, num aquário pomos uma certa temperatura
(a temperatura a que eles estão habituados) e noutro pomos uma temperatura
superior a que eles estão habituados, ou seja, a que se prevê que vais existir.
Em relação ao PH, fazemos manipulação, para ver como é que eles reagem.
Essas
experiências tem tido bons resultados?
Sim, temos tido uns resultados bastante surpreendentes, pelo
menos numa das espécies que eu estou a estudar parece que não trava muito a
calcificação; agora estamos a estudar como é que eles conseguem crescer. Por
exemplo, nos resultados que eu encontrei foi que num tratamento com uma água
mais ácida (para ver o efeito da acidificação) e numa água normal, á qual estão
habituados, eles crescem á mesma velocidade, portanto aparentemente não há um
efeito prejudicial. Neste momento estou a estudar outras partes do metabolismo
deles, como a respiração, e também estou a usar a parte da expressão dos genes
para ver se há alguma indicação se eles conseguem continuar a crescer mas têm
outras coisas que vão sofrer a nível do seu metabolismo.
O
financiamento para este projeto é bom?
Sim, é um projecto financiado por fundos comunitários da
comunidade europeia. São dois projetos, o coral
change, que é uma bolsa através de uma entidade e outra que é um projecto
europeu que o DOP participa com outros países.
Têm feito
descobertas interessantes com o estudo do banco Condor?
Temos encontrado novas espécies de corais, novas comunidades e
elas são bastante mais abundantes do que aquilo que nós pensávamos, e agora
estamos a tentar saber exatamente quais são as espécies de corais que existem
lá e como é que elas se relacionam, por exemplo, com os peixes, se elas são
muito importantes para os peixes ou não, quais são os organismos, por exemplo,
os caranguejos, os crustáceos e todos os outros organismos mais pequenos e como
é que eles dependem dos corais.
Há
indicadores de que o banco Condor está a mudar com as alterações climáticas?
Ainda não sabemos ao certo, estou a fazer uma experiência no
laboratório. Nas condições naturais não sabemos ainda porque agora é que
começamos a conhecer o que há lá, daqui a 10 anos é que nós vamos poder dizer
se houve alguma alteração ou não. Nós temos de recolher dados de que lá existem
e como é que a água está a mudar e nós ainda não temos esses dados.
Qual a
finalidade deste projeto?
A finalidade é tentar perceber o que é que vai acontecer aos
corais no futuro. Quando eu faço experiências eu tento utilizar uma acidez da
água e uma temperatura que está prevista haver no ano 2100, que é para tentar
perceber se os corais vão sobreviver ou não, e se vão conseguir sobreviver
nessas condições.
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